A CIDADE É UM ORGANISMO VIVO GERADOR DE PROSPERIDADE PARA A HUMANIDADE
- João Correia Gomes
- 14 de mar.
- 8 min de leitura
Em comparação com outras espécies vivas até de pode considerar-se que a humanidade tem sido bem-sucedida neste planeta Terra. Mas, existirá uma razão para essa vantagem?

O grande poder dos fatores intangíveis para a evolução (e a prosperidade)
Tomando como base a evolução biológica por seleção natural de Charles Darwin, o Homem é um produto evolutivo e adaptativo às condições ambientais naturais que o envolvem.
Todavia, os ambientes básicos responsáveis pelo sucesso do Homem moderno não se limitam apenas à Natureza.
Para a vida acontecer, claro que se requer um ambiente físico compatível com a fisiologia dos corpos vivos. Estes adaptaram-se a assentar na superfície terrestre atraídos pela gravidade do planeta; a respirar o ar com uma certa composição; a captar algumas frequências de radiação eletromagnética; a absorver água que sacia e alimentos com os nutrientes certos.
Todavia, a Natureza, embora essencial à preservação da vida, não explica todos os requisitos que justificam o triunfo humano. Foi preciso um pequeno ajustamento, como transformar e adaptar os recursos disponíveis na Natureza e criar as condições apropriadas às exigências colocadas à evolução e segurança dos humanos, como hoje os conhecemos.
O imobiliário, e o seu "braço" produtivo AEC, tem a função de transformar a Natureza, expressa por terrenos e matéria-prima, em ambientes ajustados aos humanos modernos.
E, não se trata apenas de atividades básicas como a infraestruturação (urbanização ou redes de comunicação) ou a edificação para conferir abrigo, proteção e conforto.
Para tais vantagens, o produto imobiliário deve prover um ambiente multidimensional necessário à satisfação de outros requisitos humanos, e criar valor superior aos recursos investidos para o produzir.
Portanto, a abordagem deve estender-se além do óbvio tangível, talvez requerer a teoria dos sistemas, exigindo supor ambientes (contextos) que proporcionam tais objetivos sinérgicos.
Os ambientes humanos estão na base do desenvolvimento do cérebro (como o lobo frontal), a comunicação por linguagem, a criatividade, a interpretação e interação com outros humanos. Na sua defesa, os humanos agregaram-se, são seres sociais interativos e cooperantes, mas infelizmente também tendem a destruir-se entre si.
O principal motor de criação de riqueza e prosperidade foi sempre o humanware (Gomes, 2018), justificado na necessidade de encontro e interação de humanos para comerciar e cooperar. Foi o berço das cidades e, ainda hoje, é o seu principal motivo como centros de inovação e de criação de valor da moderna sociedade.

A cooperação e a criação, para se alavancarem, precisaram de mútua confiança e ordem. Para tal efeito, os humanos criaram ambientes institucionais, para controlar os seus ímpetos egoístas destrutivos e o caos, partilhando conceitos para a coesão como a ética, a moral, a equidade, a regra, a ordem, a disciplina, a isenção, a cultura.
As civilizações bem sucedidas e próspera do passado devido aos ambientes institucionais que implementaram. E, as mesmas emergiram em cidades.
As instituições têm a função de amortecer (ou travar) os mais primitivos ímpetos humanos, estes mais movidos pela emoção, o egoísmo e o imediatismo do que pela razão.
Note-se que sempre houveram indivíduos espertos, mas sem escrúpulos, que se apropriaram das instituições que cooperavam ativamente, mas tendiam quase sempre a ser ingénuas, para inocular nelas ideias “virais” de distorção e criar sistemas de controlo extremo das populações crentes e obedientes.
Podem nomear-se exemplos como o Nazismo, o Estalinismo, o atual regime russo e, parece observar-se atualmente nos Estados Unidos da América.
Para aproveitar os ambientes humanos e institucionais eram necessários meios para colar os múltiplos interesses individuais, interligar e influenciar. Tal efeito prestava-se através da informação e comunicação em plataformas físicas e imateriais. A primeira expressão foi a voz, inclui outros sons (como música), emitida nas primitivas assembleias humanas, depois por meios esculpidos, a seguir a impressão em papel para leitura e registo mais acessíveis. Juntaram-se no século XX as transmissões por ondas eletromagnéticas, como a rádio, a televisão e a Internet.
No emaranhado de fluxos gerados por tais meios, mais ou menos ordenados e codificados, emergiram os ambientes de âmbito informacional e comunicacional. Estes tornaram-se o maior influenciador dos humanos, à sua interação, influencia de conduta e comportamento, tanto a nível individual como agregados (sociedade, mercados).
Essenciais para estimular a cooperação, o que sempre levou ao progresso e prosperidade, também foram usados para provocar a disrupção, o conflito e o caos sobretudo a partir das estruturas institucionais, a manipular as atitudes humanas, abrangendo sociedades inteiras. Por exemplo, a expansão da radio facilitou a divulgação da propaganda e manipulação nazi.
E, como entender a atual situação global face à emergência da Inteligência Artificial?

Dos ambientes para os sistemas
Os contextos resultantes dos ambientes levam à ocorrência de sistemas.
A teoria considera que um sistema é como um organismo composto por unidades mais simples que se interligam e são interdependentes integrando uma entidade agregada mais complexa e dinâmica que consegue reagir e adaptar aos contextos envolventes.
Claro que foi no ambiente físico natural que emergiram sistemas muito sofisticados, como a Natureza ou a Vida (inclui a vida humana). Mas, também os humanos criaram os seus próprios sistemas o que lhes permitiu diferenciar na sua evolução e prosperidade. Criaram as sociedades humanas estruturadas, os sistemas económicos, os mercados.

Tanto a Natureza, a Vida, a Economia, o Mercado ou a Sociedade resultam em muito mais valor do que a soma das suas unidades básicas, quase sempre inertes e estáticas.
Para os primeiros sistemas, as unidades básicas são os minerais, água, ar ou radiações eletromagnéticas. Para os últimos sistemas acrescentam-se indivíduos humanos e animais, embora que ainda isolados.
O efeito diferenciador que faz os sistemas, para serem dinâmicos e interativos, deve-se aos fluxos de informação e energia os quais são transferidos entre as referidas unidades básicas.
Na Natureza, o que existe inicia na atração e movimento dos corpos celestes no Universo, acrescida da entropia que evolui desde o Big Bang que, depois proporciona ao planeta Terra o movimento dos oceanos, rios, ventos, a recepção da radiação solar e, depois, a Vida.
Com a Vida tudo começa com a informação registada no ADN, os processos celulares de produção de energia interna, os subsistemas respiratório, circulação sanguínea, entre outras.

Para os sistemas da sociedade, economia e mercado foram essenciais os fluxos de informação e comunicação transmitidos entre membros das comunidades. As redes proporcionadas pela Natureza permitiam a base para o transporte de bens, de pessoas e energia entre os diversos pontos geográficos. E as cidades fixaram-se nos melhores pontos de confluência. Tais ligações foram essenciais e estimularam de forma cada vez mais fluída e eficiente a transmissão de informação. Tudo começou na básica comunicação oral, a escrita, a impressão e, depois, os sistemas audiovisuais, de computação e a Internet.
Na História humana o ambiente informacional e comunicacional nunca foi imutável, influenciou a emergência de civilizações, mas enquanto evoluía foi causando a sua extinção. Com frequência, as inovações dos meios de informação introduzidas na sociedade rompiam com o status quo e provocavam revoluções, por vezes, sangrentas (por exemplo o fenómeno europeu da casa às bruxas com a introdução da impressão de Gutenberg).
A comunicação oral consolidou as comunidades humanas que evoluíram para cidades.

A escrita levou à instituição de leis, ao comércio, e a estruturas políticas organizadas (burocratizadas) que geraram vastos impérios.
A imprensa facilitou o Estado centralizado e organizado, e depois a democracia, com berço em cidades.
Recentemente, a informática e a Internet facilitaram a globalização com a dispersão da produção (e melhor gestão logística), a gestão de processos, a desregulação e as organizações funcionais menos verticais e mais em rede.
Hoje em dia, como em situações do passado, a Inteligência Artificial (IA) parece afetar o status-quo, sobretudo no que se refere à Democracia e Estado de Direito.
Como no passado, após distúrbios mais ou menos graves, poderá obter-se um posterior novo equilíbrio a ter resultados de maior prosperidade. Também os mercados e sistemas económicos serão afetados com a IA para se tornarem em algo bastante diferente do que é hoje corrente e conhecido (mas não sem provocar alguma dor, o que já se observa).
O papel da cidade
Não é por acaso que as cidades sempre foram fulcrais para o progresso das civilizações, economias e mercados. Atraíam pessoas quando percepcionavam vantagem na troca direta de bens e informação (o início dos mercados), além do consequente efeito agregador que induzia sinergias e promovia desafiantes projetos comuns (como a construção de catedrais). A concentração da população facilitava a troca de bens e serviços, mas também a economia de energia (conforto e transporte).
Com a evolução tecnológica, a procura de energia eficiente e o desafio de sustentabilidade, o conceito de cidade é hoje em dia ainda mais assertivo e fulcral. Espera-nos um mundo supercompetitivo que procura a máxima eficiência e criação de valor em ambientes dominados pela Internet, a IA, a tecnologia digital combinada com sistemas de energia renovável, às exigências de sustentabilidade.
Não esquecer na equação o crescente fenómeno da migração de desesperados (a tender para milhões) para a Europa e América do Norte, as quais poderão tornar-se cada vez mais radicais face a conflitos sangrentos em emergência e às alterações climáticas.
Apenas na cidade é possível edificar com eficiência, pois devido à escala e industrialização, e assim satisfazer os requisitos da população, economia e mercado. Como no passado, a cidade será central para a prosperidade da sociedade, economia e mercado.


E o espaço rural?
Bem, as melhores terras agrícolas são essenciais para produzir alimento e proteger a Natureza. Claro que a transformação de terrenos rústicos para a forma urbanizada (quase sempre) foi uma máquina de fazer dinheiro (excepcional na década de 1990), mas quase sempre foi restrita a uns poucos privilegiados com poder local ou informação restrita (tema agora avivado com a discussão do projeto de lei dos solos). Todavia, tal ganho particular tende a não representar ganho para a sociedade, a economia, o mercado, e a Natureza, sobretudo pelo desperdício de espaços naturais em solo impermeabilizado sem utilidade intensiva e criteriosa para a população, mas apropriados para pequenos segmentos do mercado que querem exclusividade. Ou, então, até resultam em projetos inviáveis de baixo uso, logo baixo valor (são abandonados depois dos estragos no solo).
A expansão da edificação deveria acontecer para a grande população e apenas nas cidades e suas periferias contíguas (nunca no espaço rural e florestal).
O foco deveria estar nas cidades já existentes, utilizadas como centros de produção e criação de valor. Por exemplo, além dos grandes centros metropolitanos, poderia salientar-se as cidades do interior, sobretudo as que podem ligar-se fortemente a Espanha. São, por exemplo, Castelo Branco ou Beja (esta porque tem aeroporto e pode ligar-se facilmente a Sines e ao seu porto marítimo).

Para gerarem prosperidade, as cidades precisam de fluxos que as fazem crescer, com redes de interligação física e digital, transportes eficientes como o ferroviário (ligações entre os portos, aeroportos, cidades e saída para Espanha). Dentro da cidade o transporte rodoviário deveria ser sobretudo elétrico sobretudo os espaços urbanos de proximidade (conceito de cidade de 15 minutos).
Lisboa, 14 de Março de 2025
João Correia Gomes (Ph.D., REV, Mestre em construção, Engenheiro civil)
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