Muito se tem falado do Acordo de Paris, e dos objectivos do Carbono Zero do Pacto Ecológico Europeu. Simplificando, pretende-se como objectivo ter uma sociedade em 2050 completamente neutra na questão de poluição (carbono?).
Esta semana recebi informações sobre uma noticia interessante sobre a aplicabilidade destas intenções em concreto na ICC (Industria da Construção Civil). Curiosamente não veio da União Europeia mas do Reino Unido, agora fora da UE.
O Construct Zero Performance Framework foi desenvolvido para fornecer ao Conselho de Liderança de Construção (CLC) 'um painel do nível de setor no progresso em direção ao carbono zero .
O objetivo é "motivar" as construtoras a agir e demonstrar o progresso do setor nesta matéria.
A estrutura define os principais compromissos para a redução de carbono, junto com uma série de medidas e métricas para mostrar como o progresso está a ser feito. O desenvolvimento da estrutura baseia-se no trabalho realizado em todo o setor por grupos de especialistas e órgãos representativos.
Os compromissos principais incluem 78% das máquinas a diesel a serem eliminadas dos estaleiros de obras até 2035, reformar 27 milhões de casas alimentadas com combustíveis fósseis até 2040 e reduzir a quantidade de energia usada para produzir produtos e materiais de construção.
Desde que o governo do Reino Unido emendou a Lei de Mudanças Climáticas em 2019 para comprometer o país a atingir emissões de carbono zero até 2050, a indústria da construção foi confrontada com a necessidade de descarbonizar.
O Construct Zero Performance Framework resultou de consultas à Indústria da Construção Civil, com mais de 2.500 contribuições recebidas. No entanto, é descrito como este ser ainda "o início de uma conversa", projetada para ser revista e melhorada ao longo do tempo, de forma a alinhar-se com as mudanças da indústria e da força de trabalho.
Os compromissos práticos são:
78% dos motores a diesel serão eliminados dos estaleiros de obras até 2035
Minimizar a lacuna de produtividade entre a produção média por trabalhador da construção e da economia até 2035
A partir de 2025, as aplicações de planeamento do sector devem estarem ligados ao do transporte público activo e incluindo a recarga dos EV (Veículos Elétricos).
Trabalhar com o governo para remodelar 27 milhões de casas até 2040
A partir de 2025, todos os novos edifícios serão projetados com sistemas de aquecimento de baixo carbono
A partir de 2025, todas as novas casas e edifícios irão minimizar o consumo de energia e reduzir as emissões de carbono em 75% nas residências e pelo menos em 27% nos edifícios comerciais, em comparação com os padrões de 2021
Qualquer comprador de um produto da ICC (empresa ou particular) receberá a partir de 2030, os dados de produção de carbono, para poder fazer escolhas conscientes relativamente à poluição causada.
A partir de 2022, todos os clientes terão opções alternativas de design de projecto Net Zero, ou seja carbono zero.
Até 2035, as emissões de produtos de construção serão reduzidas em 66% a partir de 2018
1.500 empresas e clientes da indústria da construção devem assinar um plano mensurável de redução de carbono (incluindo Race to Zero, Science-Based Targets ou Climate Hub) até 2025.
Abaixo de cada um desses compromissos de título está uma série de sistemas de avaliação denominadas 'medidas de sucesso'. Elas serão usados pelo CLC para rastrear e relatar o progresso.
Os dados serão coletados trimestralmente e publicados no site Construct Zero do CLC como um 'painel' de carbono da indústria. A primeira atualização está programada para o outono de 2021.
A ministra da construção, Anne-Marie Trevelyan, que co-preside o CLC, disse:
A Estrutura de Desempenho fornece ao governo e à indústria um painel de progresso em direção ao carbono zero, destinado a permitir que as empresas avancem e encorajem aqueles de fora do setor a darem os principais passos no caminho mais abrangente para atingir o carbono zero. É importante que o sector se responsabilize pelos compromissos que assumiu;
A Estrutura de Desempenho permitirá que a indústria faça isso, relatando o progresso trimestralmente, com base nos dados existentes publicamente disponíveis
O outro co-presidente da CLC, Andy Mitchell, disse:
Estamos a ver uma enorme procura de todo o sector para avançar rumo ao carbono zero, e isso refletiu-se no nível de feedback que recebemos da consulta, quando testamos essas medidas com a indústria. Podemos ter confiança de que essas medidas ajudarão-nos a guiar em direção a um futuro de baixo carbono e estou ansioso para ver o progresso.
Verifico que há países onde a ICC continua a ser um parceiro activo na evolução da sociedade contribuindo com soluções para a melhoria de eficiência e descarbonização desta industria.
Talvez seja ignorância minha, mas não vejo em Portugal, nem o governo, nem as associações de empreiteiros nem a maior parte dos actores da ICC em geral a tomar a rédeas deste assunto para colocar a nossa Industria da Construção ao nível das suas congéneres europeias.
A própria Ordem dos Engenheiros que promoveu algum debate sobre esta matéria, parece que não conseguimos passar da teoria à prática e conseguir definir objectivos concretos para serem atingidos pela ICC.
Será assim?
A confirmar-se esta apatia generalizada, não posso deixar de criticar o "laissez faire, laissez passer" que nesta matéria, como em tantas outras, se permite a desqualificação de uma parte importante da nossa economia e da possível competitividade perante os congéneres europeus.
Fala-se muito mas faz-se pouco.
Joaquim Nogueira de Almeida
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