Não. Este artigo não é para gerar alarme. Serve apenas para pensar estrategicamente.
A humanidade experimenta uma situação única própria do cinema de ficção. Mas, é uma realidade. Ao contrário das guerras do passado e das que imaginava no futuro, afinal este inimigo não se vê e é ardiloso. Consegue atacar nos pontos fortes da humanidade, como a sua capacidade como ser social.
Para já, o inimigo ataca onde se concentram mais humanos, sobretudo cidades. Mais, aquelas que são grandes produtoras industriais. Pela esta razão, começou a afetar o mundo mais rico. Este é o mundo com os melhores sistemas de saúde. Mesmo assim o ataque é forte. Veja-se o Norte de Itália.
A força do mundo rico e industrializado está a ser posta em causa. A força que deve às cidades que concentram a população. Aí, a contaminação é rápida. Mas, os sintomas são muito camuflados, facilitam a disseminação. Neste contexto, a força das sociedades passa a ser a sua fraqueza. A riqueza depende do esforço comum, da sociabilização, da troca e redes humanas, do consumo e da dinâmica dos fluxos como o comércio ou o turismo. Um vírus como este parece ser o lado negro da globalização que tem proporcionado paz e riqueza.
Sem as medidas adequadas, o vírus pode alastrar facilmente pela humanidade. Pode conduzir à morte de milhões.
Se o problema configura já uma enorme gravidade nos países ricos, imagine-se o que seria a contaminação em países pobres. Sem os mínimos meios de saúde, a pandemia provocaria uma razia populacional nas sociedades mais pobres. O problema pode ganhar proporções apocalípticas, (in)dignas de uma peste negra ou de uma gripe espanhola que matou mais de 50 milhões em 1918.
Sem se saber quase nada como derrotar este inimigo, pelo menos a curto prazo, o método empírico aconselhado é a rotura da sua disseminação, pelo isolamento dos humanos. Requer a quebra da interação direta dos humanos que são o meio disfarçado de transporte e transmissão do vírus. Afeta sobretudo a população mais vulnerável, os idosos e os doentes crónicos.
Esta pandemia afetará o modo como vivemos?
SIM.
No curto prazo afeta os países ricos. Estes dependem da interação humana para produzir e para a estabilidade social, económica e até política. Quando se exige o isolamento físico individual dos cidadãos coloca-se em causa todo um sistema social, económico e, em breve, político (o nosso sistema democrático!?).
A primeira fraqueza será o sistema económico. A produção de bens essenciais não pode parar porque, nesse caso, teríamos o descalabro total da sociedade. As cidades dependem do saneamento publico, pois, o lixo não recolhido e evacuado provocaria outras pandemias. A população tem de ser alimentada senão grassará a sede, a fome e o desespero. A saúde é o setor de ataque e defesa na guerra. Sem alguma produção industrial e de serviços a população perde meios de sobrevivência que depende do dinheiro ganho.
Mas o requerido isolamento, e sobretudo se durar muito (e a pandemia deverá durar meses) poderá provocar a rotura do sistema económico, tal como o conhecemos. E as consequências serão graves. Além da falência de empresas, já desajustadas a este ambiente socioeconómico, o desemprego e o isolamento forçado poderão refletir-se em crise social, não vista desde a segunda guerra mundial. E, isto, se conseguir conter o problema apenas em países ricos.
Em tantas ocasiões da História, a crise económica conduziu à crise social. Esta gerou o desespero geral que deu voz a oportunismos políticos, não democráticos nem sérios, que emergiram e conduziram à morte de mais milhões. Entre tantos outros, como um possível exemplo pode referir-se a ascensão do regime nazi na Alemanha dos anos de 1930.
Mas, então, ESTAMOS PERDIDOS?
NÃO.
Se no passado grandes crises sociais, económicas e políticas levaram à guerra, à destruição, também deram origem aos seguintes saltos de progresso que beneficiaram a sociedade humana. Como uma Fénix sempre renascida, as sociedades humanas têm a capacidade de recuperar e renovar, de melhorar. Basta ver a Alemanha do pós-guerra.
As revoluções industriais do passado que concederam progresso às sociedades apenas se disseminaram e consolidaram após algum conflito destruidor, embora inevitável. A destruição limpou a estruturas pré-existentes, aniquilando o poder estabelecido, quase sempre corrupto ou injusto, ganancioso, pouco eficiente. Tende a ser um meio eficaz para a disrupção, para afinação de mentalidades.
Pode detetar-se uma certa relação entre grandes conflitos do passado e as últimas três revoluções industriais do passado, as quais geraram mudanças na sociedade e na economia.
O que está a acontecer com o Covid19, excluindo as alterações climáticas e outros perigos,
será um sinal para a mudança?
O que pode reservar esta crise? (para seguir em próximos artigos)
João Correia Gomes
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