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Foto do escritorJoão Correia Gomes

CRIAÇÃO DE AMBIENTES será tema para ENGENHARIA!?


A grande competição económica e de civilização no século XXI irá acontecer nas cidades. Não está focado nas nações como no século passado ou em impérios coloniais como antes.


Riqueza já não é o sinónimo de abundância de matéria-prima. Cada vez mais é inteligência e criatividade que se autorreforçam na interação humana, presencial ou virtual. Este princípio é muito exigente. Para estimular tais virtudes a atitude geral na sociedade deve ser livre, resoluta, descomprometida, motivada, protegida pelo poder democrático, eficiente (sem burocracia anquilosada). Infelizmente, será mais fácil para a maioria das sociedades continuar presa na exploração material dos seus recursos minerais ou de humanos.

Algumas sociedades no mundo até poderão crescer devido à sua elevada capacidade de produção física, mas será que conseguirão inovar? Poderão diferenciar?


A inovação precisa de criatividade. E, a criatividade precisa de Liberdade, ou seja de indivíduos que ajam sem medo, que experimentem e que tracem o seu próprio caminho com as suas próprias ideias, mesmo que isso não seja o que os outros gostariam de ver.” (Acemoglu e Robinson, 2020).


A prosperidade estará ligada a processos mais desmaterializados. Estes exigem sociedades que sejam livres, eficientes e democráticas. A criação de riqueza estará concentrada em nichos onde a criatividade e produção científica prosperam e se estimulam mutuamente. Requer que humanos e tecnologia se interliguem intensiva e eficientemente, onde o trabalho digitalizado conecta facilmente com os sistemas produtivos. Estes pontos serão os hotspots que atraem os capitais de investimento que interessa atrair. Todas as outras sociedades ficarão de fora ou relegadas para um lugar muito secundário.


A economia dominante será inteligente, sustentável, com um potencial infinito e depender menos dos recursos materiais (que são escassos) dada a sua desmaterialização. O novo fundamento para o modelo económico deve configurar a diferenciação com dificuldade de cópia por terceiros. Trata de criar o AMBIENTE em formas que terão de se compatibilizar para estimular e cooperar (Gomes, 2018).


Os humanos criativos e inteligentes serão o capital mais precioso da sociedade próspera. Tal não é possível num ambiente onde o poder é vigilante, corrupto, iníquo nas decisões, em que o Estado é inoperante. Tal ambiente desmotiva a luta e o caráter de empreendedor. Esta é a situação da maioria das sociedades. É no ambiente humano que os indivíduos encontram o estímulo para interagir entre si, lutar, estudar, investigar, criar, produzir porque sentem a esperança do sucesso. Os vencedores serão sociedades com universidades mais dinâmicas (ver ranking mundial), com processos mais inovadores e eficientes (que apostam no conhecimento), com organizações mais flexíveis.


A cidade tem sido desde sempre o ambiente onde os humanos melhor interagem para criar e produzir (Thompson, 2020). A pandemia atual mostra que as cidades não podem parar. A interrupção de todo o tipo de fluxos conduz à disrupção dos sistemas produtivos, logo à estagnação da economia. Mais do que uma plataforma tipo Zoom, é na cidade física onde todos se encontram e estimulam. A principal função da cidade é o Ambiente Humano.


Se, por um lado, é preciso o acelerador Ambiente Humano, por outro, é preciso o travão que modere tal dinâmica a qual pode levar ao caos. Porém, se o travão for demasiado forte, pode encravar a sociedade num poder despótico ou burocrático que beneficia poucos contra a maioria (Acemoglu e Robinson, 2020). Porém, qualquer sociedade precisa de um Ambiente Institucional saudável e eficiente que crie confiança aos agentes económicos.


A sociedade dinâmica precisa de um modelo de serviços publicos que estabeleça a ordem e justiça, regularize regras e procedimentos comuns, proporcione equidade, invista em infraestruturas básicas comuns (estradas, barragens, redes). Um Estado forte e estável, mas justo e eficiente que fermenta um ambiente humano competitivo e cooperativo.


Não motiva, o poder despótico do Estado que vigia e castiga os cidadãos induz medo, que cria leis e proporciona uma justiça à medida (ou distribui privilégios ou habitações caras pagas pelo erário publico) para beneficiar apenas certos grupos familiares, partidários ou a elite (função publica, militares, empresas). Por vezes, a própria burocracia é inoperante e incompetente e impede o progresso da economia que a remunera.


A riqueza cria-se na eficiência dos fluxos da sociedade e economia. E, se esta for mais desmaterializada, os fluxos do mundo físico são dominados (planeados, contratados, acionados, controlados) pelo mundo virtual em aplicações com linguagem codificada. As transações dependem cada vez mais de avaliações, planos de negócio, orçamentos, projetos, contratos, autos de medição, dados, relatórios, dinheiro. É tudo informação que pode fluir através de bits em todo o mundo físico, o planeta interligado pela Internet.

Trata-se do Ambiente Informacional, a peça essencial da economia do século XXI. Esta dependerá menos de um planeta continuamente despojado, pois é demasiado limitado na dimensão material ou ecológica. O modelo económico terá de focar numa certa moderação entrópica num sistema terrestre que é fechado na sua dimensão material, embora não tenha restrições quanto à energia obtida por emissão solar. Terá de reconverter processos produtivos para a contínua reutilização, recuperação ou reabilitação do material, substituir este pelo consumo de energia de fontes renováveis, complementar com processos virtuais.


A prosperidade dependerá mais de processos económicos baseados em funções racionais e criativas, que podem reverter-se em bits, do que os musculares (exceto no ginásio), sendo a produção física direcionada para a automação (robôs) e consumo de energia renovável. Serão valorizadas as profissões que exigem o toque humano ou que a Inteligência Artificial não consegue substituir ou que delas depende como as engenharias. Sem capacidade para ocupar e valorizar as profissões da tecnologia, como a engenharia, a maioria dos países entrará numa espiral de estagnação económica (Portugal estará neste grupo?).


Os meios virtuais irão consumir enormes quantidades de petabits ou até exabits. Em breve, os sistemas computacionais baseados no silício serão insuficientes para as necessidades económicas. Mas, com o impulso que decerto a biotecnologia irá ter neste século, provavelmente os sistemas computacionais passarão a basear-se no carbono (biológicos) logo muito mais potentes. Poderá evoluir do atual sistema binário (0 e 1) para um sistema muito mais potente baseado em genes (Katz, 2021) muito mais amplos?


Os humanos são seres de constituição física e dependem de certas condições naturais para existirem, vivos. Assim, é essencial a preservação e edificação do Ambiente Físico. Este abrange a natureza do único planeta para que fomos configurados. Não é em Marte, mas na Terra. Precisamos da gravidade que nos atrai ao solo, do ar, da água potável, de luz solar, de alimentos saudáveis, da vida selvagem, do espaço.

Apenas para viverem, os mais de 7 mil milhões de humanos requerem nutrientes fornecidos pelo planeta, além do sentir o mundo (ver, ouvir, tocar) em conforto e segurança. Requerem ambientes tangíveis que se ajustem às funções de estar, comer, dormir, trabalhar, mover ou serem felizes. Como a natureza em bruto não é adequada, o Homem criou ambientes ajustados a partir da mesma apropriando-se da sua superfície e matéria-prima extraída. Terá de continuar a fazê-lo, mas terá de ser de forma mais eficiente antes de esgotar o planeta que lhe dá a vida, mas que pode extinguir toda a vida, inclusive a humana!

E o imobiliário exerce aqui um papel primordial para a sociedade. Na sua função deve expressar os ambientes (sobretudo os físicos) que satisfazem as necessidades de utentes como os humanos, as máquinas ou a natureza. Imobiliário não é construção, é antes um serviço à sociedade com as mais variadas profissões.


O promotor imobiliário tem a função de prover os ambientes necessários, nomeadamente nas cidades; o gestor imobiliário deve focar a otimização dos fluxos nos processos de negócio imobiliário; o avaliador deve minimizar os custos de informação assimétrica entre as partes de uma transação (nem sempre é comercial); o arquiteto deve expressar o ambiente físico que se quer percecionado pelos humanos (e pela sociedade).


Mas, qual é o papel da Engenharia?


O papel da engenharia é essencial para a sociedade. Com base na ciência e matemática, desenvolve todo o tipo de redes que interligam os humanos que funcionam como unidades básicas de um sistema que são as sociedades. Desenvolve ainda toda a tecnologia que possibilita e otimiza os ambientes que suportam as sociedades humanas.


No primeiro caso, suporta todo o processo de desenvolvimento e implementação de redes como estradas, saneamento, caminhos de ferro, rotas (marítimas e aéreas), urbanização, Internet, comunicação, ou todo o tipo de infraestruturas para os fluxos da sociedade e da economia. Sem estas infraestruturas, não se cria riqueza e todas as outras profissões tão relevantes (economista, gestor ou médico) se tornam assim tão IRRELEVANTES.


No segundo caso, deve integrar os processos imobiliários desde a fase inicial da criação do conceito (Gomes, 2018), pois desenvolve, otimiza e aplica a tecnologia para proporcionar os ambientes da humanidade. O seu âmbito final deve estar em criar e proporcionar ambientes com todos os recursos disponíveis, inclusive a sua inteligência. Não precisa de se comportar como um conservador de museu, agarrando-se às mesmas tecnologias de base material que tiveram sucesso no contexto do século XX. Precisa de se ligar a outros ramos da ciência como a biotecnologia para abrir novos caminhos e novos desafios.



Engenharia deve ser o sinónimo de PROGRESSO.


Lisboa, 7 de abril de 2021


João Correia Gomes


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