COMO SE CONSTRĆI DEBAIXO DE ĆGUA
- Engenho e Arte
- 14 de fev. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 14 de mai. de 2020

Fazer estruturas debaixo de Ɣgua requerem muito Engenho e Arte
JĆ” deu por si a olhar para uma grande ponte ou outra estrutura, cuja fundação estĆ” debaixo de Ć”gua, perguntando-se como Ć© que os engenheiros a construĆram ou como efectuam a manutenção?
Quando a construção envolve locais submersos, os engenheiros usam por norma uma técnica que permite obter aquilo que chamamos de "ensecadeira". Uma das técnicas é cravar uma série de estacas prancha metÔlicas, colocadas juntas e verticalmente, cravadas no leito de Ôgua, para delimitar o local de trabalho.
Como sĆ£o as ensecadeiras construĆdas
Em termos de engenharia geotecnica, o processo nĆ£o Ć© tĆ£o simples quanto cravar umas paredes metĆ”licas para o chĆ£o, os engenheiros precisam de projectar cuidadosamente a estrutura para nĆ£o sofrer inundaƧƵes e manter os trabalhadores dentro desta "caixa" a salvo dum colapso. Tradicionalmente, vĆŖ-se a realização das ensecadeiras no processo de construção de pilares de suporte para pontes, no entanto, podem ser usados āānuma ampla variedade de obras de engenharia submersas.
As estacas prancha sĆ£o aplicadas no solo, no formato necessĆ”rio, a uma profundidade especĆfica. Depois de fechar o perĆmetro da ensecadeira, temos a Ć”gua dos dois lados, dentro de perĆmetro e fora do perĆmetro e entĆ£o dĆ”-se o inicio Ć retirada da agua do interior do perĆmetro para "secar" totalmente a agua da zona futura de trabalho. Este processo desencadeia esforƧos de pressĆ£o nas paredes e tambĆ©m de uma pressĆ£o da agua existente no solo que tende a "nascer" no solo. Este equilĆbrio hidraulicamente instĆ”vel Ć© um dos factores que torna este dimensionamento um tanto ou quanto complexo e minucioso.
Explicando de uma forma simples no que diz respeito Ć engenharia geotĆ©cnica, este fenómeno hidrĆ”ulico, ocorre tendo em consideração a profundidade que uma parede pode ser cravada no solo (encastramento), impedindo que a Ć”gua se "infiltre" para o outro lado da parede, normalmente definida pelo tipo de solo e nĆvel freĆ”tico. As estacas usadas nas paredes sĆ£o geralmente encastradas no solo numa profundidade calculada, a fim de evitar a passagem de Ć”gua pelo terreno.

Remover a Ɣgua da estrutura
Depois de toda a "caixa" da ensecadeira estar completa, as bombas são usadas para extrair a Ôgua do interior da mesma, criando finalmente um espaço de trabalho seco. Por vezes, ocorrem situações em que a profundidade a que as estacas devem alcançar obriga a um investimento incomportÔvel, assim, a profundidade é reduzida, mas mantém-se uma série de bombas instaladas para bombear constantemente o excesso de Ôgua à medida que esta "nasce" do solo estrutura, evitando a inundação da Ôrea de trabalho.
Estas estruturas sĆ£o usadas com muita frequĆŖncia na construção de barragens, cais para pontes ou outras formas de engenharia aquĆ”tica. Embora possa parecer que ter uma Ć”rea de trabalho tĆ£o grande, abaixo da cota de Ć”gua, possa ser perigoso, a realidade e que a verdadeira engenharia mitiga esse perigo. Normalmente, o trabalho dentro das ensecadeiras Ć© permitido somente nas condiƧƵes em que a Ć”gua Ć© geralmente controlada. Nesses estados, os modos de falha da estacas prancha, sĆ£o lentos e previsĆveis por natureza. Para ajudar a combater essas falhas, lentas tambĆ©m, uma sĆ©rie de bombas primĆ”rias ou de reserva podem ser accionadas para compensar essas falhas, ajudando a manter a parte interna da ensecadeira seca atĆ© que as equipas de trabalho tenham tempo de evacuar.
Por vezes quando os navios precisam de manutenção ou de alguma reparação, os engenheiros usam tambĆ©m esta tĆ©cnica, formando uma espĆ©cie de doca seca, para isolar o navio da Ć”gua e reparĆ”-lo. Isso geralmente Ć© feito em navios de grandes dimensƵes, onde Ć© impossĆvel elevar o navio para fora da Ć”gua. Assim, por exemplo, quando um navio de cruzeiros Ć© prolongado ou expandido, os engenheiros constroem uma ensecadeira Ć volta do navio, e depois bombeiam Ć”gua do seu interior, permitindo que os trabalhadores tenham uma Ć”rea de trabalho seca. Ć importante observar que estas estruturas de contenção nĆ£o sĆ£o baratas, mas para os projectos em que sĆ£o utilizadas, sĆ£o a Ćŗnica opção de construção.
Pode parecer que criar estas grandes ensecadeiras é muito caro, o que na realidade é uma grande verdade. Os engenheiros evitam usar esta forma de construção subaquÔtica a todo custo, mas quando é necessÔrio, estas estruturas são muito mais seguras do que outros métodos de construção subaquÔtica, como por exemplo a utilização de mergulhadores.
Assim que um projecto Ć© concluĆdo, a Ć”gua Ć© bombeada de volta para dentro da "zona seca" e as estacas sĆ£o removidas.
História das estruturas de contenção sub-aquÔtica
Este método de trabalho é bastante antiga, quando se trata de obras de construção subaquÔtica, visto não existirem outras maneiras de construir debaixo de Ôgua. As origens destas estruturas remontam ao Império Persa, onde começaram como contenções formadas por terra.

Essas estruturas primitivas foram feitas essencialmente com paredes de barro construĆdas, a Ć”gua retirada e a obra executada. Estando a obra terminada, as paredes de terra eram removidas. Era uma obra perigosa e demorada, no entanto, funcionava.
Historicamente a próxima inovação em engenharia de ensecadeiras foi feita pelos Romanos. Os engenheiros romanos usavam barrotes de madeira, que aplicavam nos leitos de Ôgua, isolando assim Ôreas sub-aquÔticas. Este foi um feito particularmente impressionante, considerando que a função era semelhante Ôs modernas contenções por estacas de prancha em aço, com a particularidade de as dos romanos serem de madeira.
No que parece um retrocesso na engenharia de contenƧƵes de Ć”gua, a inovação seguinte foi mudar para sacos de areia. Durante as guerras NapoleĆ“nicas, as pessoas comeƧaram a usar sacos de areia para controlar a Ć”gua. Os sacos foram usadas inicialmente para proteger as tropas, mas posteriormente comeƧaram a ser usadas para controlar a Ć”gua atravĆ©s da construção de barragens rĆ”pidas. Embora nĆ£o seja uma forma tradicional de fazer ensecadeiras, estas barragens de sacos de areia, permitiam movimentaƧƵes de tropas, alĆ©m de oferecerem o benefĆcio adicional de protecção contra tiros.
Finalmente, após uma longa evolução desta tĆ©cnica na história, no inĆcio do sĆ©culo XX, as contenƧƵes de aƧo foram inventadas por um engenheiro alemĆ£o. As primeiras contenƧƵes de aƧo (estacas prancha) utilizavam perfis interligados, em forma de U, para controlar o caudal de Ć”gua, sendo muito parecidas com as que ainda vemos nos dias que correm. Esta foi realmente a grande inovação final na história das ensecadeiras, Hoje, vemos apenas pequenas alteraƧƵes na tecnologia de contenção de paredes, para patentear certos perfis e mĆ©todos construtivos.
GOSTOU? então coloque um "gosto" e partilhe para os seus amigos
Tem uma história para partilhar? email EngenhoeArte@yahoo.com