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Foto do escritorJoaquim Nogueira de Almeida

MUDANÇA DE MENTALIDADES

Atualizado: 16 de mai. de 2020


O FUTURO NA CONSTRUÇÃO


Na sequência do meu último artigo “Moldando o Mundo”, dei inicio a uma nova reflexão. O facto de a Construção Civil estar a evoluir a passos largos no caminho da digitalização. E quiçá, esta será a maior revolução na industria da construção desde a implementação do betão pré-fabricado, que teve o seu inicio nas primeiras décadas do século 20 e a sua grande expansão após a 2ª guerra mundial.

Dei-me conta que estava errado, principalmente no que diz respeito a Portugal.

Da participação em vários debates sobre os novos métodos de construção, verifico que a maior revolução que ainda está por fazer na Industria de Construção em Portugal, está relacionada com a mudança de mentalidades dos actores principais. Vou dar somente dois exemplos nos quais participei directamente.

Há mais de 20 anos tive conhecimento dos blocos térmicos de betão de leca e das suas

vantagens sobre a parede dupla de alvenaria com isolamento em poliestireno no meio. Estes tipos de blocos tinham mais qualidade no seu fabrico que a generalidade dos tijolos cerâmicos dessa altura, em termos de resistência mecânica era consideravelmente maior, em termos térmicos era equivalente à parede dupla de tijolo com isolamento de EPS no meio. Com a vantagem que muitas vezes as placas de isolamento não eram bem colocadas em obra ou até “esquecidas” pelos pedreiros não sensíveis a esta questão. Em termos de isolamento acústico era bem superior, além de que a parede de blocos de leca comportava-se como uma só parede e não como 2 panos de alvenaria independentes o que em termos de comportamento aos sismos era realmente muito superior. Havia também forras térmicas em betão de leca que se colocavam nas faces dos pilares, pilares e vigas para diminuir as pontes térmicas. Fiz diversas construções com este sistema, mas não tantas como queria, porque a maior parte das vezes quando propunha esta solução à fiscalização, mesmo dando provas de todos os ensaios deste produto, na maior parte das vezes tinha como resposta “não aprovado porque não é muito usual e depois não tem aquele aspecto de vermos as estruturas de betão com os panos de alvenaria laranja a contrastar…”. De referir que a fiscalização era composta por engenheiros e/ou arquitectos e que o aspecto de que falavam era temporário até à execução do reboco!!!

O segundo exemplo é sobre o método de construção conhecida como LSF (Litgh Steel Frame) e que não é mais que uma solução de paredes resistentes efectuadas com perfis de aço, mais concretamente de perfis de chapa galvanizada quinada/moldada em diversos formatos. Este sistema que foi amplamente introduzido nos USA pela necessidade de ter uma opção alternativa à habitual construção em madeira, tinha igualmente a vantagem de não ser combustível e de não ser atacado pelas térmitas. Na Europa, empresas como a British Steel e Arcelormittal , começaram a desenvolver este produto cada uma com aproximações diferentes, tentando lançar este produto como uma opção à construção tradicional. Em Portugal, as primeiras construções com este método foram efectuadas por uma empresa com origem nos USA que tentou fazer deste método sua propriedade intelectual e criar um franchising para a implementação deste sistema, mas sem muito sucesso. Depois de dedicar bastante tempo ao estudo desta solução, com contactos frequentes com algumas empresas dos USA e Canadá, a British Steel e a Arcelormittal, comecei a usar esta solução inicialmente nos projectos de remodelação de edifícios Pombalinos do Bairro Alto e Bica. Depois de várias reuniões com o dono de obra, neste caso a a CML, acabei por conseguir provar as vantagens em recuperar estas obras com este tipo de solução, com uma substituição de parte da estrutura de madeira por perfis LSF, nomeadamente na sua melhor integração em termos de solução que respeitava a solução Pombalina original em vez da solução da moda, que era integrar núcleos de betão armado ou mesmo de estrutura metálica pesada, com modos de vibração totalmente diferentes das paredes Pombalinas. Na construção nova, projectei também algumas moradias em que foram na maior parte das vezes preteridas a favor do método tradicional de estrutura de betão armado com paredes de alvenaria de tijolo. Apesar de se tratar de uma solução consideravelmente mais rápida, mais económica, com maior qualidade de acabamentos, melhor comportamento aos sismos e melhor isolamento térmicos e acústico, as razões apresentadas de recusa desta opção eram invariavelmente de que “ainda não deu provas; não acredito nesses dados; se quiser vender depois talvez o imóvel não valha tanto”; etc.

Esta inércia em mudar, em incorporar novas tecnologias na industria da construção, fazem desta industria a que menos tem evoluídos nas ultimas décadas. A incorporação de tantas ferramentas novas que estão a chegar, encontram nesta industria o tipo de resistência conforme os problemas existentes nos exemplos que dei. Na realidade, o FUTURO NA CONSTRUÇÃO, terá o seu maior desafio na MUDANÇA DE MENTALIDADES.

De que servem tantas inovações ao nível da digitalização de tarefas, de novos materiais, dos exosqueletos para ajudar os operários, dos robots, das impressões 3D, da IA, se teimosamente queremos manter a mesma base no processo e método construtivo?

A industria da construção continuará a moldar o mundo e a ser o suporte da nossa sociedade e da sua qualidade de vida. E Portugal para acompanhar a evolução neste sector a nível mundial tem de mudar as mentalidades.

A MUDANÇA DE MENTALIDADES será a próxima revolução na Industria da Construção em Portugal.


Joaquim Nogueira de Almeida

Publicação original AQUI



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