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Foto do escritorHelena M Ramos

NEUTRALIDADE ENERGÉTICA ZERO - ÁGUAS DE PORTUGAL NO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL



O grupo Águas de Portugal (AdP) apresentou no final de Julho de 2020, o Programa de Neutralidade Energética ZERO, que visa tornar o Grupo “energeticamente autossustentável com energia 100% renovável” num horizonte próximo de 10 anos, com um investimento total de cerca de 370 milhões de euros. Está assente numa estratégia continuada de redução de consumos e de aumento da produção própria de energia totalmente renovável.


É de louvar e salientar que este projeto permitirá ainda que a AdP se posicione como o primeiro grupo de dimensão internacional a atingir a neutralidade energética em todas as suas atividades nacionais e internacionais a nível mundial.



Ao longo dos últimos 150 anos e com “assinalável contributo nos últimos 25 anos”, o Grupo AdP é responsável pelo abastecimento de água e tratamento de águas residuais “a cerca de 80% da população portuguesa” e que teve um “impacto determinante na saúde pública, na qualidade do ambiente, na coesão do território e no desenvolvimento económico e social”.



O Grupo AdP é o maior consumidor público de energia elétrica em Portugal, com consumos da rede superiores a 725 GWh/ano em 2019, mais de 1,4% do consumo de energia elétrica no País. É expectável que este Programa neutralize o equivalente a 746 GWh, correspondente ao consumo energético estimado para 2030 e que represente uma neutralidade energética de 105,3% e uma neutralidade carbónica equivalente. Ao nível ambiental salienta-se que, em 2030, o Programa de Neutralidade permitirá eliminar cerca de 205 ton/ano de emissões de CO2, representando uma poupança, para Portugal, de cerca de 5,3 milhões de euros por ano (a preços atuais 2020).


Este ambicioso programa envolve todas as empresas do Grupo AdP, incluindo as atividades desenvolvidas a nível internacional.



Consumo e disponibilidades numa visão global


Portugal é o segundo país onde se gasta mais água per capita, em igualdade com os gregos, só ultrapassados pelos noruegueses. Os portugueses continuam a gastar demasiada água o que corresponde a uma média cerca de 200 litros de água por dia, com um consumo doméstico diário por pessoa, de 124 litros de água, e cujos hábitos de consumo só diminuem por força da condição e não da razão.



O consumo global de água tem aumentado e acompanhado o aumento populacional e o desenvolvimento socioeconómico das populações em geral, que em combinação foram alterando os padrões de consumo de água, sendo que a Europa não foge à regra, assim como Portugal. Segundo os mesmos dados, as previsões apontam para que esta tendência de aumento de consumo seja da ordem de 1% por ano até 2050. A crescente necessidade industrial e doméstica da água é em algumas regiões condicionante para o necessário desenvolvimento, sendo que noutras regiões representa a necessidade de sair do subdesenvolvimento. Assim, a procura global da água só irá intensificar-se num futuro já próximo, criando níveis de necessidade e de zonas atingidas pelo stress hídrico, que a Agência Europeia do Ambiente (AEA) não tem dúvidas em classificar como uma enorme ameaça planetária. Exemplificando pode afirmar-se que mundialmente, três em cada dez pessoas não tem acesso a água potável, consumindo água considerada não segura e que põe em risco a segurança das populações, que por sinal são as mais necessitadas.


O setor das águas em Portugal é responsável por um consumo de energia elétrica superior a 1000 GWh/ano, valor que corresponde a mais de 2% do total de consumo elétrico do país. O Grupo Águas de Portugal consome cerca de 725 GWh/ano, dos quais 140 GWh/ano são consumidos na EPAL.



Produção de energia


Este Programa de Neutralidade Energética surge na sequência do projeto EPAL 0%, que permitirá atingir a neutralidade energética e de emissões no ano 2025, o que será conseguido através da construção de centrais de produção de energia hidroelétrica nas suas condutas de água, além da produção eólica e fotovoltaica, tendo-se já adjudicado a construção da primeira central hidroelétrica para aproveitar a energia gerada pela água tratada na ETA da Asseiceira, tornando a maior ETA do país 100% autossustentável em energia.



O Programa ZERO prevê a produção com a utilização dos recursos endógenos disponíveis nas instalações das empresas do Grupo, designadamente com origem no biogás, eólica, hídrica e solar fotovoltaico, incluindo solar flutuante, no que respeita:


  • Ao biogás, está previsto um crescimento de 48,3 GWh/ano (+ 163,2% face a 2019);

  • A produção de energia eólica, com a instalação de 48 torres eólicas, estimando-se uma produção de 115,9 GWh/ano;

  • O aumento da produção de energia hídrica será obtido através da instalação de 38 hídricas com uma potência total de 6,9 MW, estimando-se uma produção de 45,0 GWh/ano (face aos 90,5 MWh produzidos em 2018);

  • O solar fotovoltaico, com um crescimento exponencial na produção (em cerca de 478 GWh), com a instalação de centrais de produção média de 353 GWh/ano no primeiro ano de exploração, e a instalação de painéis solares flutuantes em 25 albufeiras, produzindo um valor médio de 125 GWh/ano. A produção de energia a partir do solar representará 70% do aumento da produção total de energia prevista no Programa ZERO.



Eficiência energética


Como medidas de eficiência energética, é objetivo do Grupo AdP reduzir 35,6 GWh/ano nas atividades de abastecimento de água (com o tratamento e bombagem de água para o consumo humano), correspondendo a uma redução de 8,5% dos consumos atuais. No saneamento de águas residuais a poupança estima-se que seja superior a 13%, com o valor próximo dos 37,8 GWh/ano. É interessante salientar que a atividade de abastecimento de água consome cerca de 60% do consumo total de energia do Grupo AdP (410,3 GWh/ano no ano de 2018), enquanto o saneamento de águas residuais, correspondente a 40% do conumo em 2018, correspondendo a cerca de 284,0 GWh/ano. As perdas, fugas e ligações ilícitas estarão a cargo de controlo pelas entidades gestoras municipais e que podem atingir, em alguns locais, valores da ordem dos 70% de fugas, em contraste com a EPAL já com valores inferiores a 10%, como entidade exemplo da EU no controlo de fugas.



Helena M Ramos


Professora no IST Técnico Lisboa

Departamento de Engenharia Civil, Arquitectura e Georrecursos (DECivil), CERIS, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa;

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