DISCUTE-SE AO LONGO DE 50 ANOS A CONSTRUÇÃO DO NOVO AEROPORTO DE LISBOA E A ÚLTIMA INTENÇÃO É A BASE AÉREA N.º 6 DO MONTIJO, SITUADA NO SAMOUCO.
É TRISTE QUE, AO FIM DE TANTOS ANOS, A ESCOLHA SEJA A PIOR POSSÍVEL, A MAIS INCOERENTE, A MAIS PREJUDICIAL, A MAIS INSEGURA E A MAIS INSUSTENTÁVEL.
Para não pensarem que eu sou “do contra”, vejamos as vantagens de construir o novo Aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete:
1 – O campo de tiro de Alcochete é uma zona plana, rodeada de terrenos agrícolas, com muitas poucas habitações e logo mais segura para os voos e para a população. Não há a necessidade de impedir novas urbanizações, onde a envolvente são zonas de cultivo activo. 2 – Por ser uma zona livre, a construção na envolvente do campo de tiro de Alcochete pode ser condicionada, a fim de evitar o urbanismo não planeado e a insegurança no local. Para os projectistas, este local é quase uma folha em branco, onde pode ser feito um bom planeamento e ordenamento desejado para o futuro do território.
3 – O campo de Tiro de Alcochete fica logo a seguir à ponte Vasco da Gama, só que em vez de se virar à direita para o Montijo, vira-se à esquerda na direcção de Alcochete e Samora Correia e é muito próximo (a cerca de 10 Km das portagens).
4 – O campo de tiro de Alcochete é uma zona plana e já tem uma pista de aviação (aproximadamente a meio do campo e transversalmente ao mesmo), o que prova que é o local ideal para levantar voo e aterrar.
5 – O campo de tiro de Alcochete, pela actividade militar no mesmo (tiros e ruído), não tem aves próximo e não são precisas medidas especiais de protecção a aves. Aquando da proposta do aeroporto para a OTA, o Campo de Tiro de Alcochete já era uma alternativa viável e teve uma DIA (Declaração de Impacto Ambiental) favorável.
6 – A construção do aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete não coloca em risco as dezenas de espécies de aves e mamíferos que habitam e nidificam na zona de Reserva Natural do Estuário do Tejo. Aves estas que ficariam desorientadas, com os aviões no local e constituem um risco muito grave de acidente, para os aviões, pois podem entrar numa turbina e explodir o motor.
7 – Os acessos ao campo de Tiro de Alcochete não precisam de estradas novas, nem de portagens novas. Poderão precisar apenas da requalificação das estradas existentes e, eventualmente, de suavizar curvas.
8 – Quando foi da opção da aeroporto na OTA, o LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil) deu como alternativa viável o Aeroporto no campo de Tiro de Alcochete. Mudar de local tem sido perda de tempo e perda de investimento em mais projectos e mais estudos.
9 – Quando sabemos que o futuro traz medidas de segurança e de protecção do ambiente, cada vez mais rigorosas, escolher o aeroporto numa zona livre de envolvente urbana e sem riscos para as aves e os aviões, seria a escolha mais sábia e mais sustentável a longo prazo, até em termos financeiros.
Agora vejamos as desvantagens de construir o novo Aeroporto na Base Aérea N.º 6 do Montijo, situada no Samouco:
1 – Devido a variações do vento, qualquer novo aeroporto terá de ter duas pistas, em direcções diferentes (pois os aviões têm de levantar contra o vento) o que coloca em risco de segurança as habitações das populações adjacentes: Samouco, Montijo e Alcochete.
2 – A construção do aeroporto na base Aérea será junto a uma zona habitada, onde demolir casas, se quisermos diminuir riscos de segurança tem um custo financeiro e social elevado.
3 – A construção do aeroporto na Base Aérea (Samouco) não tem acessos directos. Ou o trânsito passa a zona da portagem da ponte Vasco da Gama e se acede ao local pelo Montijo, ou por Alcochete, ou será necessário construir novos acessos, com novas portagens, entre o posto de combustível de Alcochete e as actuais portagens.
4 – Construir um aeroporto comercial, a partilhar espaço com uma base aérea militar, é desconsiderar gravemente a segurança nacional. Criar um espaço público onde qualquer pessoa pode observar qualquer avião militar a levantar voo, incluindo voos classificados, que possam ir buscar militares portugueses em perigo é um risco grave. Estamos a brincar com questões de segurança nacional, só porque somos um país que se envolve em poucos conflitos internacionais.
5 – Na zona de Reserva Natural do Estuário do Tejo, para além de o ruído e da poluição afastarem as aves e impedirem ciclos de migração e de nidificação, os próprios aviões, tripulação e passageiros estão em perigo, pois há muito bandos de aves e se entrarem numa turbina, explodem um motor do avião. Só este risco de segurança muito grave devia ser o suficiente para pensar numa alternativa à localização do aeroporto no Montijo.
6 – A instabilidade meteorológica, os fenómenos extremos e a provável subida do nível do mar (por causas naturais ou de poluição humana), tornam totalmente desaconselhável fazer um aeroporto numa “península” entre braços do Rio Tejo, quase ao nível do mar. Fazer um aeroporto com elevado risco de inundação e exposto à intempérie é insensato e poderá ter custos a curto prazo.
7 – Há o risco real de um grande sismo e um eventual novo tsunami, desde 1955, na zona de Lisboa. Lembremo-nos que o tsunami de 1755 subiu por Lisboa até Campo de Ourique. Se houver um tsunami, as águas que invadirem o Tejo não só inundarão Lisboa, como também a Base Aérea e o novo Aeroporto. Quando estivermos a precisar de um aeroporto, próximo de Lisboa, para apoio humanitário, teríamos Lisboa destruída por um sismo e o novo aeroporto inundado e inutilizado, o que é inviabilizar condições de auxilio quando mais delas podemos precisar.
8 – Quando podíamos tirar ainda mais partido do estudo das aves e do turismo de estudantes, fotógrafos e cientistas, vamos afectar muito negativamente o habitat das aves da reserva. Actualmente, há cerca de 3000 turistas por ano, na Reserva Natural do Estuário do Tejo, entre “birdwatchers” e outros amigos do ambiente.
9 – A Declaração de Impacto Ambiental, para o Montijo, menciona 160 medidas de minimização e compensação ambiental, com um custo aproximado de 48 milhões de Euros (fora o próprio aeroporto e os novos acessos). No campo de tiro de Alcochete é muito (mas muito) mais barato!
10 – As organizações de estudo da natureza e de preservação do ambiente, são peremptoriamente contra, nomeadamente: o ICNB (Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade), o GEOTA (Grupo de Estudo de Ordenamento do Território e Ambiente), a LPN (Liga para a Protecção da Natureza), o FAPAS (Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens), a SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves), a associação ambientalista ZERO e a ONG “A Rocha – Crer, Cuidar e Transformar”. Todas estas são contra. 11 – A actual Ordem dos Engenheiros é contra e emitiu um parecer desfavorável.
12 – Os municípios de Moita e Seixal são contra.
13 – O PSD e o BE são contra mudar uma lei nacional, que obriga ao parecer favorável dos municípios, só para fazer o novo Aeroporto no Montijo.
14 – O impacto social dos novos acessos, do trânsito e do ruído, nas populações de Samouco, Montijo e Alcochete será grande e negativo.
15 – É a solução mais cara, que embora possa ser financiada por privados em parte, a outra parte será sempre financiada por nós, cidadãos comuns, através do Orçamento de Estado. Os estudos, para o Montijo, encomendados pelo Governo já terão sido pagos pelo Estado (nossos impostos).
16 – Qualquer obra deve ter um estudo de viabilidade económica de 40 anos, para recuperar o valor investido e considerando todas as despesas de conservação e manutenção. Numa zona com risco de inundação e exposta à intempérie (em vez do campo de Tiro de Alcochete, que está num vale resguardado e plano), quais serão esses custos? Quem paga as facturas dos próximos anos?
17 – Se o aeroporto for construído no Montijo irá inviabilizar a utilização do Campo de Tiro de Alcochete, pois está muito próximo e os caças deixarão de praticar tiro e de fazer bombardeamentos, quando o projecto prevê 24 voos comerciais por hora, no Montijo. Ora se o Campo de Tiro vai ficar sem condições de utilização, a Força Aérea irá precisar de outro campo de treino e este ficará vazio. Provavelmente, um campo de tiro alternativo é algo que já está a ser estudado agora.
Além de todos os argumentos expostos, há dois outros argumentos, que têm muito peso político na decisão:
- O Estado e a ANA fizeram um acordo de investimento com o grupo Vinci, no valor de 1,15 mil milhões de Euros, que deve querer rentabilizar com a maior brevidade. Hoje, os bancos já não geram lucro, os juros na Europa chegaram a estar negativos e quem investe, quer decisões rápidas e rendimentos a curto prazo.
- O actual Governo é PS e as câmaras municipais do Montijo e de Alcochete são também do PS. O aeroporto no Montijo tem impactos negativos a nível social, mas é muito positivo a nível comercial, financeiro e económico. Embora a população possa sofrer com ruído, poluição e mais trânsito, estes concelhos ganham um novo dinamismo no comércio e a probabilidade de terem novos hotéis, próximo do novo aeroporto. O Campo de Tiro de Alcochete, embora tenha este nome, fica fora dos limites do concelho e está situado na freguesia de Samora Correia, concelho de Benavente. A Câmara Municipal de Benavente é da CDU, o que seria favorecer o partido que saiu da geringonça nesta legislatura, se o Governo optasse pelo Campo de Tiro. Convém lembrar que para o ano (2021) teremos eleições autárquicas e o ordenamento do território joga-se com as cores políticas.
Na minha humilde opinião e sem ter qualquer cor política, afirmo que construir o novo Aeroporto na Base Aérea N.º 6 do Montijo é uma insensatez sem precedentes e um erro que pode sair muito caro ao país. Provavelmente, ainda iremos pagar multas às organizações internacionais de conservação na Natureza. Obras que são decididas por políticos, que colocam de parte a engenharia, colocam também de parte a qualidade, a segurança e a economia.
Que tanta falta fazem homens de visão como o Marquês de Pombal…
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