NO DIA EM QUE COMPLETA 76 ANOS DE VIDA, INICIAMOS A PUBLICAÇÃO DE UMA ENTREVISTA FEITA NUM DIA SOLARENGO DE JULHO DE 2020, EM PLENA PANDEMIA
76 anos
Hoje no dia do seu aniversário em que faz 76 anos de idade, iniciamos uma série de artigos sobre este homem, uma figura incontornável da Engenharia em Portugal.
Breve apresentação
António Segadães Madeira Tavares é um engenheiro civil de nacionalidade portuguesa e angolana nascido em Vila Teixeira de Sousa (agora Luau), em Angola, a 3 de dezembro de 1944.
Na infância entretinha-se a construir casas, estações ou pontes, com peças de madeira e cartão, uma brincadeira que foi o prenúncio da sua futura profissão.
Figura incontornável da engenharia em Portugal, terminou o ensino liceal em Nova Lisboa e matriculou-se em engenharia electrotécnica, no Instituto Superior Técnico, em 1961. Um ano depois muda de curso e de cidade, primeiro para Coimbra, depois para o Porto, onde conclui finalmente a licenciatura em engenharia civil, em 1968, na FEUP. Recebe na ocasião o Prémio da Fundação Eng.º António de Almeida e é convidado para assistente no Instituto Superior Técnico, onde lecionou até 1973. Ao mesmo tempo colaborou com o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, ente 1969 e 1975, que lhe editou o livro Análise Matricial de Estruturas, em 1972.
Autor de projectos como o Centro Cultural de Belém, Teatro Camões, Recinto da Expo’98, Vasco da Gama Shopping, Algarve Shopping, Vilamoura Marina
Hotel… todos eles possuem um traço em comum: têm a mão de António Segadães Madeira Tavares, vencedor da 2.ª edição do Prémio Carreira da FEUP (2019). O galardão é entregue anualmente e tem por objetivo reconhecer a excelência do percurso dos diplomados da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
PALA DO SEGADÃES TAVARES
JNA: Aproveitando esta oportunidade de estarmos juntos, lembrei-me que um dos assuntos que poderíamos falar, até porque vai haver obras de reabilitação no Pavilhão de Portugal, era o de relembrarmos um pouco a história da “Pala do Segadães Tavares”, já que julgo não ser justo o nome pela qual habitualmente é conhecido da “Pala do Siza Vieira”, não dando o devido reconhecimento ao mérito do seu projecto.
AST: O Siza fica furioso com isso. Houve na altura uma revista “Arquitectura e Vida”, que na capa até tem uma fotografia da Gare do Oriente (aqueles pinheiros metálicos, aquilo não é arquitectura) e o Calatrava até ficou chateado comigo quando disse-lhe isso na ocasião da entrega dos prémios Outstanding Structure Award em Xangai, ele por causa do Milwaukee Art Museum Addition nos Estados Unidos e eu pela Extensão do Aeroporto da Madeira..
A revista tem em titulo na capa “ A Segadães o que é de Segadães” e o tema é a “pala”. O que eles foram dizer. O Siza convenceu-se que foi eu que estava por trás daquilo. Já uma coisa similar tinha acontecido por causa do António Barreto, que conheci-o tangencialmente mais tarde, ele tinha umas crónicas no “Publico” às 4ªs feira, mas eu nem costumava ler o Publico nessa altura, e tínhamos reuniões na Baixa Chiado às 6ªas feiras e numa o Siza vira-se para mim e diz, “o seu amigo Barreto ainda para ai dizer umas coisas”. Eu disse, “oh arquitecto meu amigo nada, do Barreto só conheço o - António Barreto para a rua - quando ele foi ministro da agricultura”. Consegui arranjar o jornal na 4ª feira anterior e o artigo era o António Barreto a dizer que “no Pavilhão de Portugal havia uma obra magnifica de Engenharia ao lado de um edificio banal”. Que culpa tenho eu disso? Se me perguntasse se eu subescrevo isso, isso era outra coisa, mas eu não tive culpa nenhuma nisso. Isto passa-se antes da inauguração da Expo.
O Siza zangou-se comigo, pior ainda, ele portou-se mal, quando foi do prémio Leca sobre o betão leve, o Siza escreveu uma carta ao júri, de que fazia parte o Artur Rabara ex Director do Laboratório (LNEC), a dizer que eu não era merecedor daquele prémio e que quem deveria ganhar o prémio eram os ingleses da Over Arup, ora eles que não fizeram nada. Aliás o Siza andava a promovê-los porque queria ir com eles a um projecto de um estádio em Palermo, se não me engano. Ele portou-se mesmo muito mal.
JNA: Como lhe foi este projecto da “pala” parar-lhe às mãos?
AST: Foi parar-me às mãos porque eu já colaborava há alguns anos com o Alvaro Siza. A colaboração começou com 2 projectos, a recuperação e reconstrução do Chiado, depois do incêndio do Chiado. Ele trabalhava habitualmente com uma empresa de engenharia do Porto, mas queria uma empresa de Lisboa e a recomendação que lhe foi feita era que eu tinha feito o projecto do Centro Cultural de Belem. Depois da reconstrução vieram outros projectos como a Escola de Saúde de Setubal-Politécnico de Setubal.
Um dia numa palestra no LNEC onde participámos várias pessoas, na altura em que fomos para o gabinete do Eduardo Arante de Oliveira, presidente do LNEC e de quem fui assistente, o Siza aborda-me a dizer que ainda temos a hipótese de fazer o Pavilhão de Portugal. “oh engenheiro e se fizermos uma cobertura assim, estou farto de ver telhados” e eu disse-lhe “haja quem pague que eu encontro uma solução para fazer essa cobertura”.
É claro que quando se começa o projecto nada é o que parece e a ideia da solução veio-me quando estava a dormir. Acordo lá para as 2 da manhã e vou para a casa de banho (para não incomodar a minha mulher), levo um bloco e sento-me na sanita a fazer uns desenhos e a ver como consigo resolver as coisas. Acabou por ser extremamente simples, se pensarmos numa corda de pendurar a roupa.
Fiz a “pala” com a forma com que ela devia ficar no final e depois vou esticar com uma tensão os cabos “virtuais” de aço dentro das bainhas que estão no meio de uma laje de 20cm de espessura, podia ter menos espessura mas foi o que selecionei na altura, e depois tinha de tensionar os cabos para dar aquela geometria pré-definida.
É essa a solução mas ninguém entendia na altura a concepção e até tive de chatear-me com a empresa de préesforço que no inicio cometeu muitos erros.
CONTINUA........
Nota do autor (JNA): Esta é parte de uma entrevista que durou uma tarde. Em próximos artigos continuaremos a abordar o assunto da Pala do Pavilhão de Portugal e a seguir o Aeroporto da Madeira, o estado da Engenharia Portuguesa e da Engenharia em Angola.
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