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Para a humanidade sobreviver como espécie é inevitável adaptar novos modelos de produzir e consumir, um caminho que hoje parece longínquo sobretudo porque existem reações adversas de quem precisa de manter o status quo económico. São exemplos a maioria das sociedades com regimes autocráticos que dependem da exploração intensiva dos recursos materiais e humanos, com frequência sem escrúpulos.
O caminho inevitável é para a economia sustentável. Terá de se produzir com menos matéria prima extraída do planeta, menos fósseis para produção de energia, menos exploração sem dignidade da vida em geral, o que inclui humanos. Manter o status quo irá exterminar a vida e debilitar a Natureza no único planeta que pode abrigar a humanidade, logo parece ser suicídio coletivo.
Num âmbito mais lato, não existe benefício sustentável com o atual modelo económico, nem para as elites, pois mesmo elas respiram o mesmo ar que os restantes humanos.
Para já, o valor de uma economia mede-se com a soma de matéria prima e serviços consumidos, como o Produto Interno Bruto (PIB). Em casos como aqueles em que existe destruição da Natureza, portanto uma perda ecológica e económica evidente, o aumento do PIB clássico beneficia com despesas em combates de incêndios, a reconstrução de infraestruturas devidas a inundações, a medicação e tratamentos de saúde devidos à poluição, a pesca agressiva com alto desperdício de peixe esgotando a vida marinha.
Neste modelo económico, o paradoxo é que a Natureza (e a própria vida) têm baixo valor económico, podendo destruir-se sem custos significativos. No limite, a destruição e extração material sem consequências aumentarão a riqueza medida pelo PIB devido aos serviços e bens produzidos. É absurdo!
Cabe encontrar um modelo económico muito mais inteligente, compatível com os ensinamentos da Natureza, portanto sustentável. Cada vez mais a tecnologia atual permite novas abordagens processuais, muito mais desmaterializadas do que no passado.
Cada vez mais é possível criar valor sem depender de tanta matéria cuja extração suga o planeta sem regeneração, e em resposta o contamina ainda mais. Requer incentivar o mercado que produz e consome. Talvez por PIB/Recursos ou produtividade material (Economics Explained, 2022).
As sociedades humanas evoluíram com processos assentes em três plataformas essenciais – Hardware, Software e Humanware. Os primeiros processos produtivos dependiam mais do evidente e tangível (hardware), como pedra (pouco) transformada com conhecimento mais oral e empírico do que teórico e escrito (baixo software), e com grande esforço humano sobretudo muscular e escravo (baixo humanware). As tecnologias evoluíram nas sociedades onde a informação circulava, o conhecimento fluía sem muitas restrições. Foi assim na China antiga ou na Europa a partir do século XVI.
A engenharia dos últimos séculos foi possível em sociedades mais liberais que a criaram e desenvolveram com competição e incentivo. Neste caso, a tecnologia mecânica emergiu em sociedade com alguma base democrática e de liberdade, com suporte de um sistema de justiça eficaz. Não aconteceu na maioria das nações.
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Com o tempo, os processos e a tecnologia evoluíram para soluções menos baseados em Hardware e mais em software e humanware. No valor criado importa mais a racionalização e a criatividade do que o material utilizado. O produto topo do início do século XX era o Ford T cujo valor imputava mais ao material (mais 90%) do que intangíveis (menos de 10%); o produto topo no início do século XXI é o IPhone em que o material corresponde a menos de 10% do valor, sendo o resto imputado à engenharia, marketing, gestão de projeto e logística.
Apesar do Software ser demasiado importante para a desmaterialização, é o Humanware que marca o ambiente necessário para que tudo aconteça. Observa-se ainda hoje que as nações mais democráticas, livres, com elevada equidade ou baixa restrição pelos órgãos públicos (burocracia, corrupção) são as que conseguem produzir a tecnologia mais avançada. Não são economias dominadas e estranguladas pelo setor publico, que desvalorizam o conhecimento ou as artes, como Portugal, que conseguem medrar.
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A criatividade e a inteligência são fatores essenciais para as economias avançadas, mas dependem da alta interação livre entre milhões e não entre algumas centenas da elite fechada. Apenas conseguem medrar em sociedades com população de alta formação cívica, ética, e técnica para fiscalizar e controlar e interagir entre si com temas de valor. Não interessa a interação sem conteúdo de valor efetuada pelas redes sociais em todo o mundo.
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O paradigma económico terá de ser muito mais desmaterializado. Será a tecnologia de informação a compensar o consumo material. A tecnologia existe em soluções como a Internet, metaverso, nuvem, inteligência artificial e Internet das coisas.
Espera-se a expansão de conceitos como a digitalização das atividades, a renderização da realidade física, a interoperacionalidade, a interconexão de pessoas e coisas, a sincronização das atividades. Dirigimo-nos rapidamente para a quarta onda da indústria informática – o chamado metaverso.
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O mundo avançado e sustentável apenas será possível com sociedades de baixo consumo material e energético, muita partilha de bens físicos e espaços, assim como de informação, controladas por democracia efetiva, alta liberdade de expressão e transparência de processos (incluindo sistemas eficientes de justiça).
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Infelizmente, na maioria das sociedades atuais a tecnologia é usada para controlar e dominar os seus cidadãos que, desprovidos de opinião e pensamento útil, são explorados até ao limite. Nessas sociedades não é possível desenvolver tecnologia avançada (Serpentza, 2022), já que sem liberdade de expressão e medo não é possível interagir, condição necessária para o alto desenvolvimento. Por essa razão muitas nações dominadas pela exploração de recursos naturais e humanos estão a promover a guerra contra a mudança de paradigma.
É o caso da Rússia, China, Coreia do Norte, entre tantos exemplos no mundo que estão a provocar a divisão do mundo entre ser livre e próspera em geral ou ser dominado e próspero para poucos. A vontade da população é anulada por lavagem cerebral, muita propaganda e o medo tornando-se escrava pela utilização das tecnologias, esse é o uso principal de sociedades de baixo Humanware.
Quanto a Humanware, alguns países como a China, sofrem um grave problema de empatia social, logo de cooperação mútua.
O crescimento económico foi impressionante enquanto produziam com salários baixos. O patamar seguinte de desenvolvimento requer mais exigências em software e humanware. Todavia, estes países obtêm muita da sua tecnologia avançada por aquisição, coação, ou roubo de propriedade industrial sobretudo aos países ocidentais.
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Um bom exemplo é Taiwan que desenvolve a mais sofisticada tecnologia de microchips e domina o mercado em todo o mundo quando comparada com a China, não sendo estranha a intenção desta para conquistar o território da primeira. Assim, como a Rússia não pode aceitar que a Ucrânia se torne um país desenvolvido que seria comparado com o atraso geral na sua sociedade.
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O paradigma económico tem mesmo de mudar, e este processo pode mesmo acarretar algum conflito sangrento. Apenas irá atrasar o processo. Infelizmente sempre aconteceu isso na História da Humanidade.
Claro que a resposta estará na própria Natureza, no aumento de intensidade da interação humana, na transparência dos processos (como mais democracia), na eficiência dos fluxos de informação entre tudo e todos.
Interessa desenvolver e implementar a tecnologia que recorre a nutrientes facilmente acessíveis e regeneráveis, à luz solar, ao uso e partilha, mas não à usurpação.
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A efetiva sustentabilidade só será possível com tecnologia que evite extrair matéria prima ao planeta, poluir o ecossistema, e recuperar os materiais utilizados. A matéria para os processos industriais e consumo terá de provir mais de nutrientes acessíveis que sejam regeneráveis por elementos naturais comuns como o sol, água, ar, bactérias.
Neste âmbito, as tecnologias bio e nano deverão ser o próximo patamar de progresso para além das atuais baseadas no silício.
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Conta-se com o resultado não linear produzido pelo efeito composto do sistema complexo de multivariáveis (agentes) que se influenciam mutuamente. Como exemplo do efeito composto pode observar-se no alfabeto em que apenas 26 letras permitem criar distintos milhões de obras literárias e técnicas que expressam ideias e conhecimentos de milhões de pessoas do passado e presente para alavancar o futuro.
Na Natureza também a vida e a inteligência florescem nos fluxos de informação contida nos incontáveis pequenos genes (ADN e RNA) ou em neurónios que interagem e se influenciam na adaptação a novas envolventes.
Também o sistema próspero exigirá o mesmo comportamento, mas agora de milhões de humanos interligados em cooperação, não em fluxos banais e supérfluos (como o TikTok ou o Instagram), mas para encontrar soluções positivas. A Humanidade seria como um cérebro gigante, tipo Mente.SA como defendia Al Gore (2013).
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A tecnologia terá, portanto, de ser muito avançada ao atual estado de arte com processos mais dependentes de fatores intangíveis a compensar a materialidade que se perde no produto. A maior componente do valor criado em sustentabilidade estará na inteligência técnica e criativa que se enquadram pela ciência e engenharia. Mas, não será uma oportunidade aberta a todos. Apenas floresce em certos ambientes físicos, humanos e institucionais para induzir confiança de milhões de pessoas que agem, interagem e decidem para o trabalho, investimento e empreendedorismo.
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A confiança gera-se pelo ambiente institucional sobretudo a autoridade do Estado que pode agir para incentivar a colaboração, interação e investimento dos cidadãos. Pelo contrário, pode incutir medo ou afastamento dos cidadãos por vigilância intrusiva com coerção infundada e incompreendida, desde a forma explicita mais agressiva (China, Coreia do Norte) até à aparente e implícita através de burocracia inoperante ou discricionária.
Esta última forma pode observar-se na crescente apatia da sociedade portuguesa das últimas décadas, um quadro bem descrito por Ricardo Reis (2022). Este tipo de sociedade não conseguirá suplantar o nível de produção se continuar baseada em baixos salários com produtos de menor valor e fáceis de substituir.
"Uma nova visão sobre o imobiliário - Plataforma para a criação de riqueza no século XXI" desenvolve o tema da importância dos diversos ambientes para a prosperidade económica.
Lisboa, 01 de setembro de 2022
João Correia Gomes (Ph.D., Mestre em construção, Engenheiro civil)
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