VOOS SEM PASSAGEIROS?! É MELHOR DO QUE ESTAREM PARADOS...
Porque é que as companhias realizam voos fantasmas?
Antes de mais é importante elucidar o leitor de forma simples o que é um slot, ora vejamos, slot aeroportuário, ou simplesmente slot, é um termo usado na aviação para se referir ao direito de aterrar ou descolar em aeroportos congestionados. Como unidade, um slot equivale a uma vaga que permite ao seu proprietário agendar uma aterragem ou uma descolagem num intervalo de tempo pré-determinado.
Os slots são bens preciosos para as companhias aéreas. Com mais de 200 hubs a nível global a operar à capacidade máxima, a procura nos aeroportos excede a sua capacidade. De forma a gerir esta situação, a capacidade aeroportuária está segmentada em slots. Este é o espaço de tempo específico regulamentado existente para se poder usufruir das instalações e infraestruturas para as aterragens, desembarque de passageiros, e admissão de novos, reabastecimento, e nova descolagem.
As companhias aéreas fazem o planeamento dos seus voos baseado na disponibilidade de slots da rota que estão a realizar. Para maximizar a receita, o planeamento deve estar alinhado com a procura. Por exemplo, slots à hora de ponta matinal, que é muito usada por passageiros que realizam viagens de negócios e que regressam ao fim do dia, é consideravelmente mais cara do que slots a meio do dia, de uma forma geral.
No entanto, sincronizar o timing de descolagem e aterragem quando muitos aeroportos trabalham perto da capacidade máxima não é uma tarefa fácil. “Se se deslocar de um local é necessário ter a certeza de que se pode aterrar à hora certa no aeroporto de destino” disse Paul Steel da IATA (International Air Transport Association). “Se começar a existir um afunilamento de slots no final do processo, irá criar uma situação caótica, pelo que é necessário um sistema harmonizado”.
É aqui que as WSG (World Slot Guidelines) da IATA entram em acção. Desenvolvidas durante décadas, estas optimizam o uso da capacidade aeroportuária disponível. Elas beneficiam as companhias aéreas e passageiros em termos de maior conectividade, fiabilidade no serviço e menos atrasos.
Com as companhias a realizarem centenas de ligações diárias, algumas sincronizadas com outros voos de ligação, este sistema torna-se muito complexo de gerir, mesmo sendo a alocação de slots realizada apenas duas vezes por ano. Para simplificar o processo, existe uma regra no WSG que garante a retenção da slot à companhia aérea se esta a usar com sucesso pelo menos 80% das vezes. Esta regra é conhecida como “grandfather right”. Esta regra atribui grande rigidez ao sistema de alocação, e é por esta razão que os slots são considerados uma espécie de “diamantes” da aviação.
É esta mesma razão que leva as companhias aéreas a ponderar realizarem voos quase sem passageiros (habitualmente denominados de voos fantasma), ignorando o custo ambiental de tal decisão.
Por exemplo, os 4 voos realizados de e para Londres na imagem, representam as emissões anuais de 200 a 300 automóveis, o que diz bem da pegada ambiental deixada por este tipo de iniciativa por parte das companhias aéreas.
Voos de curta de muito curta duração permitem também manter os intervalos de manutenção das aeronaves...
Por outro lado, companhias como a Ryanair, estão a manter toda a sua frota operacional, apesar de só estarem a realizar voos de resgate de passageiros. Isto porque, quando as aeronaves estão demasiado tempo em terra, têm de ser inspeccionadas antes de poderem voltar a voar, o que implica mais custos e um acréscimo no tempo de inoperabilidade da mesma.
Um porta-voz da empresa afirmou que “ de forma às nossas aeronaves estarem disponíveis para realizarem voos de repatriamento e envio de mercadorias urgentes, alguns dos nossos membros de tripulação têm de permanecer disponíveis e ao serviço de acordo com a regulamentação da Boeing e EASA”.
Porém, dados da Simply Fly sugerem que a companhia low-cost tem mantido maior parte da sua frota operacional. Foram monitorizados os movimentos de uma amostra de 47 aeronaves, escolhidas aleatoriamente (cerca de 10% da frota da Ryanair) durante 35 dias, e os resultados são claros: durante este período 35 das aeronaves voaram e 11 estiveram em serviço pelo menos a cada 4 dias.
Em alguns casos e partir do site FlightRadar24 é possível monitorizar alguns dos voos fantasmas realizados, e pode-se ver casos em que a aeronave descola, realiza um número mínimo de manobras e aterra de seguida.
Comissão Europeia põe um travão (temporário) aos voos fantasma, mas companhias querem os seus direitos prolongados até Outubro
No passado dia 13 de Março, a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen, colocou uma moratória na chamada “use it or lose it rule” (regra do perder ou ganhar), que estipula que as companhias têm de ter 80% de sucesso no uso dos seus slots. “Esta medida temporária irá ajudar a nossa indústria da aviação e o ambiente. O choque é temporário mas todos precisamos de trabalhar em conjunto de forma a que seja tão curto e temporário quanto possível.” disse a presidente da Comissão. Este medida mantém-se em vigor até 30 de Junho com efeitos retroactivos até dia 23 de Fevereiro, e pode ser estendida se necessário.
Parece no entanto, que as companhias aéreas, não ficaram satisfeitas com a decisão, pois consideram-na insuficiente no prazo. “Isto é o absoluto mínimo para as necessidades da indústria. Dadas todas as incertezas, é desapontante que a decisão não cubra todo o período de verão”, afirmou a IATA.
“Prolongar tal medida até ao fim da estação de 2020 (que termina a 24 de Outubro) seria desproporcional para o claro objectivo de que tudo regresse à normalidade no período a intervir”, afirmou a Comissão Europeia em resposta, sustentando ainda que dados da EUROCONTROL prevêem uma queda da procura até ao fim de Junho, mas salvaguardando que caso as circunstâncias mudem, o período em causa pode ser estendido.
Será que esta medida é suficiente para pôr fim aos voos fantasma? É esperar para ver...
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